As transformações tecnológicas e o desenvolvimento da internet, trouxe a possibilidade de um mundo mais imediato e isto trouxe a possibilidade de uma pessoa ser o que deseja e a buscar relações virtuais, onde tudo começa em um segundo e pode terminar da mesma forma.
A liquidez das relações amorosas e sociais produz no sujeito a busca por relacionamentos perfeitos e totalmente satisfatórios, fugindo da necessidade do sujeito de lidar com as frustrações e insatisfações que toda relação demanda e qualquer descontentamento ou insatisfação é resolvido pela tecla DEL ou pela opção BLOQUEAR.
O problema deste modelo de relações é a desvalorização do outro, pois se alguém perde um amigo poderá conquistar outros 100 amigos em segundos por qualquer uma das mídias existentes; mas como isto reflete em nossa sociedade?
Substituímos a sociedade criada e mantida por valores e regras por outra mantida pelo poder e pela riqueza. Não importa mais casar com uma pessoa honesta, ao contrario, valoriza-se sua esperteza e a quantidade de bens que possui ou a marca do carro e roupas usa. Nesta nova era o dinheiro substitui os valores, as leis e as regras, porque ele lhe oferece o poder necessário para dribla-las.
Porém, assim como a moda se transforma a cada estação, cabe ao consumidor manter seu valor e status atualizando o guarda roupas, iphone ou mantendo seu recursos para sustentar seu poder.
Mas e para quem não tem recursos, como agir para ser valorizado e desejado?
Em nossa sociedade, o poder se constrói de acordo com o acumulo de riqueza ou com sua proximidade e relacionamento com os grandes líderes e no caso das periferias diferente da classe dominante, o poder acessível ao proletariado ser “amigo” de quem se dá bem ou muitas vezes de lideres comunitários que atuam em nome do PCC ou CV.
O jovem, cuja família humilde desconhece seus direitos ou sofre com a ausência de oportunidades, manifesta baixa auto estima e sentimento de inferioridade e acaba servindo ao trafico ou tentando subsistir através de seus próprios meios, e passa pelo uso de drogas como quem busca forças para ter ou ser o que não sente que é ou tem.
E como vive uma família muitas vezes numerosa, afetada pelo uso de substâncias sem recurso para subsistir e que vive em dificuldades¿
Ruan, jovem que foi tatuado na testa com os dizeres “Sou ladrão sou vacilão”, é mais um destes milhões de jovens vítimas da grande oferta de substancias químicas, ofertadas por aqueles que visam o enriquecimento e através da riqueza passa impune as leis vigentes.
O que nossa sociedade oferece a jovens como Ruan, é o abandono relegado a jovens que se perde na dependência química e nas mãos de justiceiros.
A marca na testa de Ruan “Sou Ladrão, Sou Vascilão”, é invisível aos olhos da sociedade. É invisível porque se realmente pudéssemos enxerga-la algo deveria ser feito, mas por não saber o que fazer ou entender, a ignoramos.
Nosso silencia causa marcas.
Mas que oportunidades Ruan e outros tantos jovens tiveram para ser diferentes. Vejamos!
De fato a primeira marca desta família viveu sua avó sob a impunidade de seu marido alcoolista que lhe agredia fisicamente e ameaçava sua filha mãe do Ruan.
A outra marca foi produzida também por nós, que nos calamos quando o Estado não ajuda ou apóia jovens como a mãe de Ruan, que vão para as ruas se esconder das agressões familiares.
Cabe ao Estado oferecer condições a todos os jovens como este para terem direito a uma moradia, saúde e educação, contudo a mãe de Ruan não teve, assim como não teve seus outros 5 irmãos.
Ruans são marcados todos os dias pela nossa indiferença, pelos nossos votos nas urnas, pela nossa ausência que consente leis injustas que atendem aos grandes empresários e escraviza o homem simples e trabalhador.
Vejo que “VOCE É LADRÃO DE SUA VIDA E VACILÃO DE SEUS DIREITOS!”
Hoje mais uma vez e a todo momento, alguma lei será criada para tirar nosso direito a ter direitos, mais uma vez vamos marcar os corpos de milhares de crianças e adolescentes vitimas do abandono social.
Enquanto países da Europa acolhem e apoiam jovens e crianças vulneráveis, aqui usamos sua mão de obra para ampliar os serviços oferecidos pelo narcotráfico ou para escravizar sua mão de obra barata nas indústrias da moda e de outros segmentos.
Enquanto houver descaso, ausência de leis e indiferença no cumprimento das mesmas, estaremos enfileirados à espera de sofrermos nossas próprias marcas e estaremos fadados a ter o direito de não termos Direito.
Nos resta exigir oportunidades iguais em nossa sociedade ou o retorno a fluidez das relações momentâneas e virtuais; prazerosas e irreais.
Joana d´Arc Salgado Rodrigues
Psicóloga e Terapeuta Familiar
Clínica Grand House
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